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A cadeira do museu (ou: professora, isso não é uma obra)

luisagusi

A escola onde eu fiz o Ensino Fundamental 1 — o que atualmente é do primeiro até o quinto ano, no meu tempo apenas da primeira à quarta série — fazia vários passeios. Ao menos eu me lembro vagamente de idas a museus, parques, ao teatro. Também me lembro de ter começado uma briga, com tapas e pontapés, com um colega bem na entrada do Teatro Fernanda Montenegro de Curitiba, acho que na primeira série. Mas há um momento bem específico, de 16 anos atrás, que eu lembro com mais detalhes.

Não tem lição de moral nessa história; eu só quero contar um causo.


Um museu de arte grande foi inaugurado na cidade em 2003 — na verdade em 2002, mas já explico o histórico. Portanto, a minha escola nos levou num passeio guiado.

Primeiro, deixa eu falar sobre o museu.


Fonte: Divulgação do MON.


O Museu Oscar Niemeyer (MON), também conhecido popularmente como Museu do Olho (na foto acima), localiza-se na Rua Marechal Hermes, número 999, no Centro Cívico de Curitiba. Possui entrada a R$20,00 (meia entrada a R$10,00) e seu funcionamento é de terça a domingo, das 10h às 18h. Não é exatamente um museu acessível, pois a entrada é cara e o seu exterior pode ser intimidador para quem não está acostumado a frequentar tal tipo de instituição. Mas há esforços para torná-lo mais frequentável, principalmente com os dias ingresso grátis e de horário mais longo, e incentivos a visitas de escolas também colaboram.

No ano de 2002, o local usava o nome de Novo Museu, mas foi rebatizado para Museu Oscar Niemeyer e reinaugurado em 2003. Segundo o seu site, na seção Histórico:

A história do museu teve início em 1967 quando o arquiteto Oscar Niemeyer projetou o que é hoje o prédio principal […]. Em 2001, 23 anos depois de sua inauguração, as autoridades do Estado decidiram transformar a generosa área em museu e, em 22 de novembro de 2002, o edifício deixou de ser sede de secretarias de Estado para se transformar no, inicialmente batizado, Novo Museu.

O prédio passou por adaptações e ganhou um anexo, popularmente chamado de Olho, ambos de autoria do reconhecido arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer.

Minha escola foi lá para a reinauguração, em 2003. Eu estava na terceira série.

O MON é um museu grande; quando eu quero ver todas as exposições com calma, eu consigo ficar lá por quase três horas. Há oito salas de exposição no prédio principal, além de outros vãos aqui e ali e uma sala enorme no topo da torre; sempre saio de lá cansada. Isso que eu sou uma adulta saudável, formada em Artes Visuais: eu tenho toda a paciência e mente aberta do mundo para um passeio desses.


Mas uma turma de trinta crianças com mais ou menos nove anos de idade não tem a mesma disposição.


O roteiro que os monitores, um rapaz e uma moça, precisavam recitar começava antes mesmo da entrada: eles nos contaram sobre a arquitetura do museu, que o “Olho” na verdade era uma araucária, mas também poderia ser interpretado como o tutu de uma bailarina — por isso tem um painel de uma dançarina em uma das laterais, aparentemente? — e só depois começaram o tour pelas exposições em cartaz. Como já mencionei, o prédio principal tem oito salas expositivas.

Como o museu ainda era novo, eu entendo não ter um planejamento e/ou um treinamento mais adequado para prender a atenção de crianças.

A dupla nos guiou por todas as salas, parando nas obras que fossem mais interessantes. Nós vimos várias pinturas — o que ainda é o mais comum em museus — e também havia uma sala dedicada exclusivamente a Design de Produtos. Esse é um diferencial do MON: ele é um museu de Artes Visuais, Design e Arquitetura. Os monitores fizeram questão de se demorar mais nessa parte, apontando para tais obras do campo do Design — eu não lembro qual era o tipo de produto/obra, ou se era uma montagem baseada nas inscrições para algum prêmio da área, mas o que importa é: havia cadeiras lá no meio.

Pois bem, ainda no meio do prédio principal, já havia alunos se dispersando. Um colega de turma — talvez um dos cinco Gabriéis, talvez o Ivan; só lembro que era um menino loiro — cansou de ficar em pé escutando os monitores do museu. Ele decidiu ir até uma cadeira que estava próxima, para se sentar.

A professora — acho que o nome dela era Cláudia? — esbugalhou os olhos e disse: “Não senta aí, [Fulano]! Vai que é uma obra!”.




Professora, aquela cadeira não era uma obra. Era uma cadeira para uso dos seguranças.


Fonte: euzinha.


Essa cadeira da foto aí. Tirei a foto durante a minha última visita, em 19/12/2019. Eles ainda usam as mesmas cadeiras. Tem várias dessas ao longo do museu. Inclusive nas entradas e saídas.

Mas ou ela não reparou nas outras cadeiras, ou ela ficou tão concentrada em impedir que alguma criança se sentasse numa das cadeiras da exposição de Design que qualquer cadeira era potencialmente perigosa. Ou é uma cadeira tão bonita que poderia ser uma obra?

Enfim, aquela cadeira não era uma obra. Coitado do Ivan/Gabriel/Fulano.

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